sábado, julho 25, 2009

CONTAGEM REGRESSIVA 7/2 ...reflexões no dentista



A decoração do consultório é especial: uma mistura de Alice no País das Maravilhas e de Floresta Aquática, concentro-me nos peixinhos da última e partilho boas recordações de infância: as de quebrar quadradinhos de gelo com os dentes, deliciar-se do gelo fofinho recolhido das paredes do freezer, digo, da arca, longe do conhecimento de que mudanças bruscas de temperatura desencadeiam reacções pulpares que provocam lesões permanentes nos dentes... a atendente simpática interrompe meu diálogo com os peixinhos e me encaminha para o consultório 2, para a cadeira do dentista. Instalo-me e poucos minutos depois chega a dentista branca e de branco -hola como te ciente? Começa então o abre e fecha de boca... o ruído ensurdecedor do berbequin, e a conversa de sempre - se ciente algo me avise, cierto? Porque não dizem logo se sentir dor me avise? e como avisar com a boca totalmente lotada: um sugador, uma broca, um espelho colher e mais dois dedos..., mas porque os dentes tem terminações nervosas?? seria tudo mais fácil e menos doloroso se não tivessem. De olhos fechados -ja cansados de tanto tecto ver- me questiono do porque de ainda não terem inventado berbequins brocas silenciosas, além de brocas silenciosas, televisores com projecção de tecto, e com protecção especial do foco de luz que incomoda a vista... senhora - interrompe a mulher de branco - vamos começar el lazer - ganho então belíssimas mawanas odonto paraguayas, e começam os longos e sofridos 27 minutos de... um piano em busca de teclas mais brancas e perfeitas...

sexta-feira, julho 24, 2009

CONTAGEM REGRESSIVA 8... Espinhos e Shawarmas 8...

Asunción: Come-se bem e paga-se pouco, felicidade para os amantes de cadáveres, pois os restaurantes são recheados deles em todos estilos, cadaver peixe, nem em sonho! Tem rio, mas a existência de niveis elevados de Mercúrio na água desaconselha o consumo de peixe nacional, fala-se do LIDO onde se pode comer peixe, mas o local é um horror em termos de bem estar, parece mas um tradicional boteco, entrei, e desisti sem mesmo ver a cara do peixe !!! Hoje, para variar optei por comida chinesa no Mall Excelssior, mas a comida de chinesa só tinha o nome, estava mais chiguaya do que chinesa, legumes altamente gordurosos., até o famoso rolinho chines soltava oleo pelos cantos.. e acabei no Libanês me deliciando de um Shawarma de poio mais um tutti frutti por $ 2 - em Luanda pago (pagava) $ 10 por um, no Big Byte - Depois do almoço e antes do retorno a FAO, uma ligeira paragem para o chá, no Hotel -o espelho me revelou um espinho bem no centro da testa, já nao é de TPM... o que será?????

domingo, julho 19, 2009

CANSEI DE AMAR!


Amar também cansa... cansei-me de amar apesar de muito te amar, cansei de amar no vazio desse amor saciado a conta gotas, desse amor que vive a custa de agendas, de prioridades outras, infidelidades, engarrafamentos, tensões menstruais e tensões outras, cansei de amar esse amor extremamente humano, que tão bem se apodera do amor que se acredita (ou acreditei eu?) somente meu e o partilha, divide, confunde… cansei de amar também por minha incapacidade de perdoar, de esquecer, esquecer os passados que para mim são sempre presentes adormecidos e passiveis de se tornarem futuros. Cansei de amar como se amam certas coisas obscuras, secretamente, entre a sombra e a alma, cansei-me da mascara de que não te amo, não me amas, o que nos leva ao caminho perigoso de a outros amar ou sermos amados, cansei do amor que passa por um teste de fogo e se permite, sem estratégia revista, a novamente enfrentar o fogo, cansei do amor que persiste em conhecer o outro quando o conhecer é acto continuum… Cansei do amor inglório, não é o amor maior quando suportamos mais! Cansei do amor a custa de nossas incapacidades, que busca subterfúgios nos ditames culturais e se esconde, cansei das incertezas – as nossas - quanto ao futuro, cansei de tudo o que sei de nós, que sei que não sabes, disso também me cansei…Não me atrevo - como Florbela Espanca- a obrigar-te – (a ti ou ao amor?) a aceitar minha eterna gratidão pelo mal que nos causamos, não considero isso de todo um mal e, vou vivendo essa saudade numa mistura de tristeza, vazio, solidão e alguma miséria, mas saudade também não é para sempre, passa e tudo será superado. Mas de tudo resta um medo, o medo de ver-te arrancado de mim, eu de ti, o medo da fase intermediária, a fase da auto consciencialização de que está tudo bem, que vai ficar tudo bem, vou superar, paciência, não era para ser, não era forte o suficiente, não era verdadeiro o suficiente… Por isso ainda sou Neruda, por essa fase intermediária e por tudo que sonhamos realizar, cansei sim, mas, te amo e não te amo como se tivesse em minhas mãos as chaves da fortuna e um incerto destino desafortunado

segunda-feira, julho 06, 2009

DIALOGOS III

…o verão ficou algures, aqui é inverno, chuvoso e violento, eu indefesa e sem protecção…do outro lado da vida -!!!- de olhar firme, andar imponente em cena surge meu doce e estranho Juiz -outra determinaçao de mim - a tal protecção para o inverno que me assola. Nos seus olhos a pergunta que não quer calar:
e sua paixão pelo inverno ?

Como nunca o fiz antes confesso então, que via de regra não me correspondem os objectos do meu amor. Terno compassivo e com um misto de autoridade sentencia:
Se me amas siga-me…
cabisbaixa opto pela indiferença – como seguir-te? se ainda falta tudo, e tudo o que sabe a tanto, se ainda falta a mistura explosiva que faz a caldeira alimentar vagão a vagão, andar e ganhar o mundo …
Se me amas siga-me, insiste meu eu extraordinário
- como te seguir? Se ainda faltam os orgasmos, não os subjectivos causados pelo olhar, faltam os de corpo, de pele, de palavras murmuradas entre apertos e gemidos…
Se me amas siga-me,
Como desistir agora? depois de dares-me a liberdade de poder ser um Eu livre da fuga voraz da fútil tentação, o que me rendeu mais conhecimento de mim, mas conhecimento da necessidade (in)voluntária do profundo querer … Porque seguir-te se ainda é hora de ousar, não em outras possibilidades, mas no reinventar o já inventado
Se me amas siga-me
Guardião de mim, não me instas que te siga, ainda é hora de reexercitar o cérebro e decifrar o me querer ambíguo. Eu sou você e estamos juntos, numa pureza transcendeste e me proteges e me entendes, e me correspondes, mas eu sou desejo, não dos que levam a alma a loucura mas ao bem, ao belo, ao justo, a correspondência possível…as flores…