
Amantes ainda jemiam nos leitos
E os sós em sono refaziam sonhos
Gotas silenciosas envenenaram os tetos
E o céu tingiu-se de cinza e revolta
Descortina-se uma Luanda adormecida
Onde as águas fazem o verde mais verde
E ao povo dos subúrbios trazem o amargo fel
Uns se afogam outros se esvaíram
Enquanto isso de seus casulos
Despertam as poderosas gravatas
Rumo a honra que cede lugar a esperteza
Em nome do povo que jaz nas enchentes
Gotas silenciosas envenenam o chão
E o desfile das gravatas continua
Mas nenhuma delas tem lágrimas para derramar
Elas se deleitam em sua esperteza
Lágrimas derramadas têm os meninos
Que de olhar distante, das águas curtem a força
Lágrimas sugadas pelas lembranças
Do que ontem foi seu habitat
Gotas insistem em doloroso veneno
Sós e amantes juntam-se aos meninos
E vivem o prelúdio de morte anunciada
Gotas são peste fome e mais miséria
E da esperteza das gravatas o alimento.
© A.Mathaya Janeiro de 07