segunda-feira, janeiro 29, 2007
GOTAS, GRAVATAS, MENINOS
Amantes ainda jemiam nos leitos
E os sós em sono refaziam sonhos
Gotas silenciosas envenenaram os tetos
E o céu tingiu-se de cinza e revolta
Descortina-se uma Luanda adormecida
Onde as águas fazem o verde mais verde
E ao povo dos subúrbios trazem o amargo fel
Uns se afogam outros se esvaíram
Enquanto isso de seus casulos
Despertam as poderosas gravatas
Rumo a honra que cede lugar a esperteza
Em nome do povo que jaz nas enchentes
Gotas silenciosas envenenam o chão
E o desfile das gravatas continua
Mas nenhuma delas tem lágrimas para derramar
Elas se deleitam em sua esperteza
Lágrimas derramadas têm os meninos
Que de olhar distante, das águas curtem a força
Lágrimas sugadas pelas lembranças
Do que ontem foi seu habitat
Gotas insistem em doloroso veneno
Sós e amantes juntam-se aos meninos
E vivem o prelúdio de morte anunciada
Gotas são peste fome e mais miséria
E da esperteza das gravatas o alimento.
© A.Mathaya Janeiro de 07
segunda-feira, janeiro 08, 2007
Diálogo I - A Viagem
A viagem: "real ou simbólica"? perguntaste-me ontem
eu, muda de palavras, não te soube responder
apenas insisti nos versos fragmentados
que afinal já estavam formados em mim.
Sabes tú e sei eu, que tudo em nós se confunde
ténue demais é a fronteira entre o simbolico
e o nosso real (vice-versa).
esse real que sempre nos foi impossível,
outras vezes traumático
hoje ao amanhecer, em prosa forjei a resposta
"a viagem é real, um real ontem simbólico"
O simbólico é da poesia, e nós não somos poesia
nós somos prosa, somos realidade,
o simbólico mata antecipadadamente
engole o prazer escondido na caminhada...
Há de facto simbolismo nas pontes quebradas
no desejo de voltar, nos fragmentos
Mas a Viagem é real...
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